quinta-feira, 3 de março de 2011

WRR Entrevista: Norte Cartel


Após um bom tempo acompanhando o cenário Hardcore carioca conheci grandes bandas e fiz vários amigos. Uma dessas bandas, é a banda carioca Norte Cartel. Uma banda com a ideologia que representa muito bem o cenário do hardcore e com a atitude e energia de sempre durante os shows. 


Confiram abaixo a entrevista completa:

WRR: Muitas letras do Norte Cartel tem em foco a amizade, a família que nós podemos escolher. De fato, vocês parecem bons e velhos amigos fazendo um som de ótima qualidade juntos! Como foi o começo da banda?

Norte Cartel: Primeiramente, obrigado pelo elogio! De fato, temos bastante tempo de convivência e equiparar a nossa amizade a uma verdadeira família não é nenhuma demagogia. É assim que nós nos sentimos. O primeiro show do NORTE CARTEL foi há cinco anos, em 2006. Na época, com o fim do Solstício (hoje a banda está novamente ativa e representando com muita competência o HC da Região dos Lagos), o Daniel (guitarra) e o Marcelo (ex-vocal) resolveram montar uma banda que fizesse um hardcore mais oldschool, na linha das bandas de NY que sempre ouvimos muito. Em meados da década passada o HC estava perigosamente se desvirtuando com uma explosão de bandas emos. E a proposta do NC era justamente nadar contra a corrente e fazer um som mais tradicional, enérgico e, principalmente, sincero. Depois de alguns ensaios o Dudu (bateria) foi chamado pra se juntar à banda e, ao lado do Chinaider (ex-baixista), compôs a nossa primeira formação. O line-up durou cinco shows. Com a saída do Chinaider, eu (Longo) acabei sendo convidado pra tocar e assim surgiu a formação que durou até o final de 2007, quando o Chehuan assumiu o vocal.

WRR: Durante alguns anos frequentando shows de HC pelo Rio, vejo que hoje os shows são bem menores mas o público é sempre fiel. O que vocês acham da cena atual de hardcore no Rio de Janeiro?

Norte Cartel: Sinceramente, acho que a cena do Rio de Janeiro nunca esteve tão forte. Não me lembro de outra época em que houvesse tantas bandas dos mais variados subgêneros do HC atuando de forma tão competente em nosso estado. Não há um fim de semana em que não haja um show de hardcore para se assistir. E as bandas estão melhores do que nunca! Talvez não haja uma renovação de público à altura principalmente pela falta de exposição da música pesada na grande mídia como houve no passado. Em decorrência disso, há também menos produtores de eventos dispostos a correr riscos. Mas aos poucos as bandas estão se adaptando e reaprendendo a divulgar seus trabalhos por caminhos alternativos e a fazer as coisas por conta própria, no melhor estilo DIY, como reza a cartilha do punk. Eu vejo muita gente reclamar que a cena dos anos 90 era muito melhor, tinha-se mais público, etc. A verdade é que havia shows bons e shows ruins justamente como hoje. E as bandas que mais se destacavam eram justamente aquelas que mais trabalhavam, as que colocavam a mão na massa e faziam acontecer. É muito fácil dizer que a nossa cena está um lixo e ficar de braços cruzados esperando que os shows lotem. Cabe a nós a mudança!

WRR: Norte Cartel é uma banda que pode ter o orgulho de dizer que nunca se vendeu diante da indústria musical atual, para entrar em eventos ou conseguir uma gravadora de grande porte. Vocês acham que o rock nacional em geral, que é apresentado pela grande mídia, de fato acabou?

Norte Cartel: O rock nacional está muito longe de estar acabando. Ele está mais vivo do que nunca nas garagens do Brasil, nos pequenos bares, nas festas temáticas, nos quatro cantos do ciberespaço. Não se deve cair na armadilha de equiparar o rock brasileiro como um todo à sua ultra-restrita parcela que tem representatividade midiática. Atualmente, o rock nacional que desponta na grande mídia é invariavelmente bobo, um subproduto pasteurizado representado por pseudo-ícones que não têm uma fala minimamente contundente a fazer sequer. E mesmo que a tivessem (caso fossem intelectualmente menos patéticos), não conseguiriam fazê-lo por um simples motivo: não há espaço para mudança, não há abertura para um discurso, de fato, contestador dentro da superestrutura midiática. O que há, sim, é a contínua alimentação da ilusão da sua possibilidade de existência, o que gera uma lucratividade absurda para a indústria musical ao vender a "subversão" na forma dos happy-rocks-da-vida, enquanto a verdadeira arte e os verdadeiros questionamentos acontecem à margem da grande mídia.

WRR: Quais foram as bandas que fizeram vocês pensarem em realmente entrar para música e quais são as bandas nacionais e gringas que vocês curtem da atualidade?

Norte Cartel: Bom, vou responder por conta própria. Duas bandas sem as quais nunca teria entrado pra música: Ramones e Ratos De Porão. Bandas nacionais que tenho ouvido são o SangueXÓdio Hardcore, Cervical, Fokismo e Ralph Macchio. Bandas gringas: Wisdom In Chains, Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine.

WRR: Como foi a experiência de um split com Otra Salida?

Norte Cartel: Foi ótima! Foi nosso primeiro álbum oficial (antes lançamos apenas uma demo) e nos proporcionou uma visibilidade maior na América Latina que dificilmente teríamos sem este split. Foi, inclusive, o que nos abriu as portas para inúmeros shows pelo Brasil e para o lançamento do Fiel À Tradição no ano passado.

WRR: Após a saída do Marcelo dos vocais, a banda teve que mudar em alguns aspectos com a entrada de Chehuan?

Norte Cartel: Em nenhum aspecto! Muito pelo contrário, o Chehuan foi chamado no fim de 2007 pra quebrar um galho pra gente em dois shows que tínhamos agendados no final daquele ano até encontrarmos um vocalista novo. Mas a integração foi tão boa que ele acabou assumindo os vocais definitivamente. Ele tem um background extenso no hardcore, o que acabou facilitando para que se encaixasse perfeitamente no Norte Cartel. Sem contar a facilidade de ter um amigo de longa data ao nosso lado na banda!

WRR: Qual é a posição da banda perante a questão da música gratuita na internet? Vocês são a favor do compartilhamento de músicas de maneira gratuita?

Norte Cartel: Radicalmente a favor. A guerra contra o download é uma guerra perdida. Deixemos ela para as grandes gravadoras. Para nós é só uma possibilidade a mais para divulgar o nosso trabalho. A maioria das pessoas que compram os CDs da banda, inclusive, são aquelas que baixam o álbum na internet, curtem e fazem questão de ter o disco físico, com o velho e bom encarte para terem em suas coleções pessoais e, paralelamente, auxiliar a banda. Por mais romântico que acabe soando hoje em dia, há muita gente que ainda faz questão de ter o álbum físico.

WRR: Quais são os planos da banda 2011?

Norte Cartel: Dar prosseguimento à divulgação do Fiel À Tradição, tocar para novos e velhos amigos nos mais variados lugares, além de começar a compor material novo. Felizmente a resposta ao álbum novo tem sido fantástica e os shows têm sido cada vez mais cheios alucinantes!

WRR: Caras, eu quero agradecer de coração pela entrevista, é a primeira entrevista que faço e espero não ter vacilado nas perguntas rs...foi um prazer enorme! Sucesso sempre, que a banda continue nesse nível, com ótimas letras e toda energia nos palcos. Para finalizar, vocês teriam alguma mensagem final?

Norte Cartel: Em nome do Norte Cartel, agradeço-lhe pelo espaço que e pelas palavras. Que seja a primeira de muitas entrevistas que vocês venham a fazer em prol do nosso underground. Curtam nossas páginas: www.facebook.com/nortecartel e www.twitter.com/nortecartel . Paz a todos!


Por Thiago Ferreira

3 comentários:

Norte Cartel é é responsável pelo melhor disco do ano passado.

o norte cartel compartilha da mesma ideologia antifa desinformada que o otra salida?
espero que não , considero o norte cartel a melhor resposta ao hcsp
quem puder responder a pergunta eu agradeço